GRUPO DE ESTUDO PSCANALISTAS NA COMUNIDADE
PRESENÇA DO PSCANALISTA NA CRISE PELA PANDEMIA COVID-19
“PERTO DA EQUIPE DE SAÚDE”
O grupo de estudo Psicanalistas na comunidade da FEPAL é uma rede que presta assistência em situações de emergência, a partir de suas respectivas sociedades psicanalíticas componentes.
Não podemos
pensar em outra coisa senão acompanhar, colaborar e conter àqueles que se
expõem para nos cuidar.
Desta forma, para a nossa rede de Psicanalistas na comunidade, é uma responsabilidade social cuidar de quem nos cuida.
Junto com a pandemia do corona vírus, somos afetados por um turbulência emocional que se move entre pessoas, grupos e instituições.
Somos invadidos por comunicações sufocantes e opressoras que, na maioria das vezes, não incluem nenhuma esperança realista. Felizmente, algumas mensagens incluem um senso de humor que relaxa e alivia, mas não contribui para o processo de elaboração pessoal e social de um momento na história da humanidade que, a partir do qual, poderíamos sair mais fortes.
Pensamos que esse olhar de esperança é possível se nos basearmos na luta que nossos países estão travando, aprendendo com aqueles que já estão em situações extremas.
Ou seja, nos antecipando com as armas adequadas, tais como: o isolamento social preventivo; a contribuição do cidadão para a conscientização e o respeito ao Estado de Direito.
As pessoas que negam o contexto violento em que estamos imersos e procedem como se nada estivesse acontecendo também precisam de nós, mesmo que demonstrem desprezo, negligência e onipotência.
Também não é possível esperar que nós, psicanalistas e profissionais da saúde mental, nos comportemos como se nada estivesse acontecendo.
Nessas circunstâncias excepcionais, é muito necessário se sentir parte de uma equipe que apoia e contém, que prioriza os objetivos e a conquista destes sobre as individualidades.
Com esse apoio é possível desenvolver a possibilidade de pôr na subjetividade e na intersubjetividade da equipe, os elementos perturbadores que circulam entre os sujeitos nesse clima de turbulência emocional.
Para esse apoio, é essencial saber o que podemos e o que não podemos e, assim, estabelecer limites claros, para que a receptividade e paciência das pessoas e dos grupos apoiados sejam cuidadas a partir do limite exercido com carinho e inteligência.
Estaríamos falando sobre que cada um e cada grupo exercem uma autoridade saudável sem exigir mais do que é possível e sem negar que estamos expostos a um desconforto permanente que podemos aproveitar para aumentar a tolerância à frustração.
Uma pandemia global, como a COVID-19, afeta necessariamente à população em geral, mas especialmente aos serviços de saúde abalando a capacidade instalada de suas instituições, tanto em atendimento ambulatorial quanto em hospitalização.
Sem dúvidas, as áreas da Medicina Crítica serão as mais comprometidas. Essas áreas possuem recursos limitados em termos de estrutura, equipamentos e, sobretudo, em número de profissionais, que, sem dúvida, passarão por situações de consequências não desejadas em relação aos pacientes e seus familiares.
Parece-nos impressindivel enfatizar a necessidade de cuidar adequadamente da saúde física e mental destes profissionais, que raramente é levada em consideração em situações que os levam a estar nas trincheiras.
Desta maneira, pode ser produzido um desequilíbrio entre as necessidades clinicas e a disponibilidade efetiva dos recursos sanitários.
É nesses casos que existe um consenso global de que as crises devem ser gerenciadas como situações de “catástrofe”, aplicando excepcionalmente uma justiça distributiva que contemple a alocação adequada de recursos de saúde na sociedade.
É nessas situações que a atenção psicanalítica é reconhecida como um instrumento fundamental para auxiliar os pacientes, os familiares e as equipes de saúde.
A presença do psicanalista é essencial, e é ele quem deve levar em consideração, em primeiro lugar, a grande variabilidade das respostas individuais e grupais que encontrará.
A presença do especialista em saúde metal deve garantir a necessidade de obter o maior beneficio dos recursos limitados existentes e mitigar no que forem possíveis os danos emocionais das equipes de saúde e das pessoas a quem irão auxiliar.
Para uma abordagem psicológica adequada na situação de crise, é essencial que o profissional que acompanha e auxilia respeite o ritmo que será imposto pela característica dinâmica deste processo.
Ao nosso grupo de estudo, como trabalhadores na comunidade, esta pandemia nos convoca desde a essência dos nossos objetivos.
Pensamos que favorecer a presença do olhar e da escuta psicanalítica oferece a possibilidade de entender e desenvolver o registro emocional dos fatos, das experiências e das vivencias para poder atravessar melhor.
Constatamos, a partir das pesquisas realizadas e, por sua vez, focadas em projetos de prevenção, que este trabalho sobre o registro emocional favorece o desenvolvimento da autocontenção e um registro “bondoso e continente” dos conflitos, fundamental para o relacionamento interpessoal em que se vive e se cresce.
Nossa disposição de enfrentar os piores cenários é o primeiro elo da cadeia para tentar reduzir outros efeitos indesejáveis.
As diferentes formas de intervenção que nós, como psicoterapeutas, podemos abordar serão, nessas circunstâncias, destinadas fundamentalmente para a equipe de saúde para:
Fortalecer a equipe como tal e gerar a estrutura de atendimento e prevenção ao burnout.
Favorecer a melhor assistência ao paciente.
Dar ferramentas para a assistência à família.
A estrutura de planificação do nosso trabalho está baseada em:
Critérios científicos
Princípios éticos
Estado de Direito
A importância da participação na comunidade
Devemos desenvolver estratégias para que as equipes de saúde possam otimizar o uso de recursos, caso o surto atual se espalhe e gere demandas extraordinariamente altas.
O atendimento profissional em contextos de crise oferecido pelo psicanalista aos trabalhadores da saúde deve trazer clareza à questão de garantir a contenção e o apoio à tomada de decisões diante da escassa alocação de recursos que existem durante uma epidemia
Pretendemos que as estratégias mencionadas possam permitir ao profissional de saúde lidar com a perda de vidas, a perda inadvertida de confiança e as difíceis decisões que devem ser tomadas.
Devemos acompanhar as equipes que, por sua vez, trabalham acompanhando pacientes que têm o direito de receber informação sobre a situação extraordinária, assim como, das medidas adotadas. Para dessa forma, garantir o dever de transparência e a manutenção da confiança no sistema sanitário.
Propomos trabalhar, através de nossas associações e grupos de colegas, apoiando aos profissionais de saúde, facilitando a construção de critérios consensuais que permitam compartilhar responsabilidades em situações de decisão que envolvam grande carga emocional e grande pressão social.
Maridel Canteli SAP
Isabel Mansione APdeBA
Diana Zac APDEBA
Participantes do Grupo de estudo Psicoanalistas na comunidade