Registro de performance da artista Ana Cristina Mendes [1], intitulada “Mar-tecido”, 2015
O Tempo e a Esperança!
por Hemerson Ari Mendes
Psicanalista (SPPEL), atual presidente da FEBRAPSI
Fim do ano! Fim dum tempo! Só mais um tempo entre tantos tempos!
O poeta Mario Quintana aponta para a necessária dose de “Esperança” no nascimento deste tempo que chamamos de ano. Tempo de alegrias e dores, prazeres e loucuras …
“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E — ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…”
São várias as medidas que podemos utilizar, dos centésimos de segundos que definem recordes, passando pelos tradicionais 50 minutos das sessões, pela semana da “criação”, os trimestres escolares … séculos, milênios e os bilhões da idade do nosso planeta.
Todos os tempos carregam o amalgama de vida e morte; em uma batalha para o re/torno ao nada e ao tudo que já se viveu/sentiu.
Cada etapa com suas medidas de tempos, vejamos!
Entre a fecundação – resultante do encontro entre duas mentes – e o nascimento: são dias, semanas, meses, trimestres. Enfim, tempos!
Tempos nos quais as alegrias, as angústias, os medos, os acidentes e a biologia aceleram, lentificam, paralisam, interrompem …
Tempos que se repetem, de tempos em tempos.
Tempo do termo, da mãe e, (in)felizmente, do bloco cirúrgico. São tempos de escolhas e (im)possibilidades.
Tempo das, e entre as, contrações. Tempo do parto e da chegada. Tempos do APEGAR com suas medidas de esperança e ameaças.
Tempos das mamadas e entre elas. Sono. Fraldas. Banhos.
Tempo ditado, tempo imposto. Tempo roubado, tempo perdido, tempo aproveitado.
Tempo presente; tempo passado; tempo futuro?
Aulas, férias. Tempo de estudo, tempo de brincar.
Tempo jogado, tempo parado, tempo extra, tempo prorrogado.
Game over: fim do tempo, fim da vida? Não, nova ficha, nova vida. Aprendemos com os adolescentes e seus jogos que podemos ter várias vidas/tentativas.
Tempo de crescimento, tempo de espera, desespera, atropela. Por que não parar? Porque não para!
Tempo de namoro, tempo do namoro, tempo para o namoro; tempo no namoro!? Tempo sem namoro.
Tempos de encontros, desencontros, reencontros … Tempo ganho, tempo aproveitado, tempo gasto; tem(p)o perdido!
Não, tempo vivido! Vívido?
Tempo da formação, tempo do trabalho, tempo da sessão; tempo para a família, tempo para os filhos; tempo para?!
Tempo que passa, tempo que voa, tempo que não volta.
Tempo para pensar, tempo sem tempo, tempo para parar.
Tempo: dá um tempo!
Tempo de trabalho, tempo para aposentar, tempo para aproveitar (?).
Tempo para vida, tempo da vida. Tempo de vida!
Tempo sem tempo.
Tempo!!!
Sim, mais um ano! Que a leveza da infantil esperança, nutrida/sonhada pelas boas lembranças, nos alimente/estimule para novos voos/caminhadas guiados pela esverdeada busca das necessárias utopias.
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[1] Ana Cristina Mendes (Fortaleza, CE, Brasil) é mestra em Artes (UFC), desde 2006 participa de exposições no Brasil, França e Alemanha. A artista possui uma pesquisa plástica que tem o corpo e o universo têxtil como campo de experimentação.O portfólio da artista está disponível na página do Instagram: portfolio.anacristinamendes