María Cristina Fulco na Mesa de Abertura do Congresso FEBRAPSI

Agradeço em nome da Diretiva da Fepal, à Diretiva da FEBRAPSI e a sua Comissão Científica, à Sociedade Brasileira de Psicanálise de Minas Gerais e a sua Presidenta Edna Torres, o convite para participar neste XXVII –vigésimo sétimo Congresso Brasileiro de Psicanálise, cujo tema “(in)confidências e estranhamentos”, habilitará a implantação de debates e trocas em relação ao nosso posicionamento como analistas em “estes tempos que mudam”. Também a possibilidade de voltar a pensar quais os critérios sobre a formação e transmissão em nossos institutos, em tempos em que os estranhamentos a que nos confronta a clínica do dia a dia nos interrogam sobre nossa identidade e também sobre o futuro da psicanálise.
Voltei a ler sobre os origens da FEBRAPSI, lá por o ano 1967 quando foi fundada como ABP, integrada por apenas 4 associações que desde o início souberam criar sua primeira “Revista B de P”. O fato de constatar hoje que FEBRAPSI é constituída por 24 Sociedades Membro, das quais 13 são Sociedades, 4 são Grupos de estudo e 7 são Núcleos Psicanalíticos, quase um terço da FEPAL, é uma amostra do impulso de crescimento que a psicanálise tem e teve no BRASIL, o que nos fala também do compromisso dos analistas brasileiros com nossa disciplina e da penetração que o pensamento psicanalítico brasileiro, tanto em sua teoria como em sua prática, continua a ter nas organizações culturais, académicas e científicas nesta região de nosso continente.
O fato de que a ABP passou a se chamar  no ano 2008 de FEBRAPSI deu conta, a meu ver, do caráter Federativo e do crescimento continuo da psicanálise também no território do País.
“Estranhamento” marca fortemente uma caraterística de nossa época, deste tempo da Post-modernidade em que estamos imersos. A atual explosão demográfica de nosso continente está despertando a explosão do racismo, da xenofobia, da homofobia, entre muitos  outros aspectos. 
No encerramento da reunião de Presidentes que teve lugar em Montevideo no mês de Abril deste ano, convidamos ao Professor Gerardo Caetano, cientista político que e historiador uruguaio, cujo pensamento é conhecido em nível internacional, para nos dar uma perspectiva da situação atual e do futuro próximo da América Latina. O tema proposto por ele foi: “América Latina na encruzilhada: a profundidade das mudanças e das incertezas”. Em uma passagem de sua conferência, expressou que vivemos nas sociedades nas quais o medo define a “Arcádia regressiva”, e isto fomenta o fundamentalismo religioso, o que leva a que as sociedades percam o rumo e surjam governos insuspeitos. Se fazem discursos nos quais não há nem enunciado, nem relato, nem memória. Diz-se qualquer coisa porque o que importa não é o sentido nem o conteúdo, e sim os afetos primários que desperta. Impera a auto-verdade. Eleva-se o líder e o governante a um lugar messiânico e redentor.
Estranhamento, sim, que nos desafia: o estranhamente familiar, o familiarmente estranho, disse Freud ao referir-se ao ominoso, ao sinistro. Desafia-nos e infiltra nossas sessões, talvez hoje mais que nunca. Tempos em que o trabalho no eixo transfero-contratransferencial não admite postergações, como tampouco a admitem o respeito pela abstinência, nem as variações do enquadramento, quando não podem ser fundamentadas psicanaliticamente.
Por último, pensar as fronteiras do psiquismo e do corpo, as sexualidades nômades e de gênero, as subjetividades cambiantes e as normas e discursos vigentes. Pensar as fronteiras entre o sujeito e o outro, quando esse outro se encontra no confuso lugar de ser alternadamente semelhante ou inimigo, ficando o laço social marcado por esse par de opostos, que não deixam de conter seu perfil de violência. Elementos que convocam o estranhamento e que nos levam  à necessidade de ter que interrogar o instituído para dar lugar ao novo, ao instituidor. Acho que será algo sobre o que poderemos trabalhar neste Congresso, como antecipação também do próximo Congresso da FEPAL de 2020.
Desejo-lhes e nos desejo, a todos, um ótimo congresso!
Muito obrigada
María Cristina Fulco
Presidente de FEPAL

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