IPA in Health (runner-up): Nahir Bonifacino (APU)

1. Poderia contar-nos um pouco sobre o projeto?

Este trabalho brinda aos profissionais da saúde que estão na linha de frente de atenção do bebê e seus pais, uma formação para a detecção precoce do risco no Desenvolvimento Emocional Precoce e a promoção do vinculo pais- bebê, desde a consulta pediátrica do recém- nascido. É uma contribuição da psicanálise em prevenção e promoção de Saúde Mental Infantil, com alcance potencial a todos os bebês.

 Desde 2006 trabalho com este projeto junto a distintos profissionais em Centros de Saúde Pública de zonas desfavorecidas de Montevidéu, realizando a formação e coordenação de equipes interdisciplinares de saúde.

De 2015 até agora o projeto se centrou em uma zona de alto risco psicossocial, com a participação de pediatras, médico de família, nutricionista infantil e uma enfermeira de um Centro de Saúde, que receberam a formação proposta e realizaram o seguimento de cem bebês na consulta pediátrica, durante o primeiro ano de vida. Este trabalho, que corresponde a uma tese de doutorado, mostrou resultados quantitativos e qualitativos dos benefícios da abordagem para o bebê e seus pais e para a prática profissional, e gerou o interesse de expandir esta experiência a outros Centros de Saúde Pública, em benefício de um maior número de profissionais e de bebês; etapa atualmente em desenvolvimento.

2. Seu projeto está aberto aos analistas em formação? Qual peso atribui a esta experiência para alguém que está em formação?

Até o momento não participaram analistas em formação, porém estão em andamento novas etapas e o projeto está aberto aos que tenham interesse em participar. A respeito da contribuição deste trabalho para a formação analítica, diria que a observação de bebês e da díade durante a visita pediátrica, que é um aspecto central deste projeto, contribui para maior acuidade na observação, o que entendo que é um elemento importante na clínica e não somente nas consultas pais-bebê. No trabalho com crianças, por exemplo, grande parte da comunicação é não verbal, por meio de olhadas, gestos, expressões faciais, então a acuidade na observação gera maiores recursos para entrar em contato com a criança e captar suas vivencias. Também é uma vivência formativa a vivência transferencial durante a observação da díade e a intensidade dos afetos que se põem em jogo nesse cenário que remete ao psiquismo precoce.

3. É um esforço muito grande implementar projetos em qualquer instituição, como realizou o trabalho em sua sociedade?

Sim, é muito difícil implementar e sustentar um projeto em qualquer instituição. Este é um projeto implementado em um Centro de Saúde Pública de uma área de Montevidéu com um alto nível de pobreza, violência e risco psico-social, com todo o esforço que isto implica, mas não é um projeto institucional de minha sociedade. É um projeto pessoal que realizo por iniciativa própria e de forma voluntária e que nos últimos anos, em função do interesse e das gestões de uma Pediatra Assessora da Área de Criança do Ministério de Saúde Pública recebeu o apoio da Rede de Atenção Primária dos Serviços de Saúde do Estado, oferecendo aos profissionais o tempo necessário para a formação e para assistir reuniões quinzenais de equipe que realizamos no próprio Centro de Saúde. O importante compromisso que assumiram os profissionais participantes, junto com o apoio da Direção do Centro de Saúde foram e são aspectos fundamentais para a implementação e continuidade do projeto. Também esta ultima etapa do projeto se viu respaldada por aportes metodológicos muito sólidos de docentes da Universidade onde realizo meu doutorado, que permitem mostrar resultados objetivos para as autoridades de Saúde, dando maior validade ao trabalho.

4. As Instituições Psicanalíticas dão o apoio e o reconhecimento necessário?

Recebi apoio da IPA em diferentes ocasiões para que este projeto fosse possível. Em 2009 recebi uma Bolsa IPA-FEPAL para participar do RESEARCH TRAINING PROGRAM DE LONDRES, onde obtive generosas contribuições para seguir adiante. Em 2010 e 2012 recebi Grants de IPA para investigação em distintas etapas deste projeto, e por ultimo, o prêmio recebido este ano é um reconhecimento muito importante.

Em minha sociedade recebi o reconhecimento de amigos e de vários colegas que merecem um grande respeito, alguns deles inclusive realizaram interessantes aportes a este trabalho. Também houve certa valorização institucional através de um convite da Comissão Científica para apresentar este trabalho em uma atividade institucional preparatória do Congresso de APU do ano passado e depois também em um painel do Congresso, onde o projeto foi comentado por panelistas de primeiro nível e colegas de distintas sociedades, e foi muito bem recebido e valorizado.

5. Em tua opinião, o que seria importante para a criação de novos projetos para a continuidade dos que estão em curso?

Neste sentido, valorizo muito esta iniciativa da IPA de reconhecer o trabalho dos psicanalistas em comunidade. Creio que é uma abertura da IPA como instituição e uma abertura para a psicanálise.

Estes prêmios implicam a legitimação institucional da psicanálise como disciplina aberta ao diálogo interdisciplinar, que compartilha as preocupações da sociedade e é capaz de gerar intercâmbios para contribuir no nível de políticas públicas em benefício da população.

Seria importante que essa iniciativa de reconhecer e dar a conhecer os trabalhos de analistas na comunidade se sustente no tempo em nível da IPA. Sair do consultório e por em jogo nossas ferramentas psicanalíticas no campo comunitário e junto a profissionais de outras disciplinas é todo um desafio que gera inseguranças, mas entendo que também é uma forma de transmissão da psicanálise, de aprender com outros e de nos enriquecermos como profissionais e como pessoas. 

6. Acredita que o prêmio IPA dará mais visibilidade a este trabalho? Quais são suas expectativas para a mudança, depois de receber o prêmio?

Sem dúvida que este prêmio leva a uma maior visibilidade do projeto dentro da comunidade psicanalítica, gerando certo interesse, como o é esta entrevista, por exemplo.

Minhas expectativas são seguir trabalhando nesta linha em forma paralela ao meu trabalho no consultório como venho fazendo, ampliando o alcance deste projeto para mais centros de Saúde no Uruguai e formando profissionais também no exterior, como o faço periodicamente há vários anos na Espanha e Chile, onde além do mais colaboro com psicólogos, pediatras, neonatologistas e outros profissionais que têm interesse em replicar este trabalho em seus centros de saúde ou no nível de programa de Saúde Pública.

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