Entrevistas a los 7 Representantes de América Latina en el Board de la IPA – Gleda Brandão Araújo

1 – O que significa para você ser um representante da América Latina no Board da IPA e qual é a importância da comunicação entre os representantes e a FEPAL?  

Considero que ser representante da AL no Board da IPA é um privilégio e uma uma grande responsabilidade, pois,  significa dentre muitas coisas, atuar como uma  ponte entre a IPA, seus membros e as sociedades componentes. Significa exercer um papel complexo mas, verdadeiramente democrático: escutar e levar em conta as demandas, ideias e necessidades das sociedades latinoamericanas e de seus membros para um foro de discussão mais amplo. 

2-  O mundo está caótico, os princípios que norteiam o tratado dos “Direitos Humanos” estão cada vez mais sendo atacados, para você, o que a Psicanálise tem a ver com isso?  

A psicanálise vem contribuindo com um grande acervo de ideias e teorias que tentam   entender questões  relativas desenvolvimento humano  em suas diferentes dimensões, ideias estas que, dentre outras,  embasaram diversos  movimentos e avanços sociais.  Começando com próprio Freud tentou aplicar os conceitos psicanliticos aos processos sociais,  como pode ser visto em vários de seus artigos como Reflexões sobre a Guerra e a Morte; Totem e Tabu, Psicologia das Massas e Análise do Ego; Mal Estar na Civilização, Moisés e o Monoteísmo, dentre outros. Essas contribuiçoes, podem ser vistas no trabalho de John Bowlby  que em 1950 tornou-se assessor da ONU e cujas ideias  foram fundamentais  para a adoção de leis universais sobre os direitos da criança, bem como na criação e aprimoramento  de programas sobre o  cuidado emocional de crianças institucionalizadas e ainda no tratamento da depressão anaclítica, das carências maternas e nas prevenções de psicoses. Temos ainda as experiencias  antropológicas de Erik Erikson com os índios Sioux, que deram a sua teoria uma perspectiva social marcante, levando-o a estudar de maneira sistemática a influencia dos fatores culturais no desenvolvimento psicológico. Vale lembrar Winnicott, que entre 1943 e 1962, apresentou um programa de radio, em que falava diretamente as mães sobre o desenvolvimento das crianças.

3- O que pensa sobre os modelos de Formação nos Institutos de ensino e também sobre a autonomia das sociedades psicanalíticas em relação aos modelos vigentes? 

 O reconhecimento por parte da IPA dos 3 modelos de formação psicanalitica em 2007, significou um grande avanço, mas não foi suficiente,   precisou e continua precisando ser aperfeiçoado, pois sabemos que dentro de cada modelo existem  tantas variaçoes quanto o numero de Institutos. Variaçoes essas que estao intimamente ligadas ao contexto social e cultural de cada sociedade.

Acredito que os Intitutos de Psicanalise  devem ter autonomia para escolher o modelo de formaçao que lhes parecer mais adequado, mas, os padroes necessarios para uma sólida formação psicanalítica devem ser observados sempre: análise pessoal; seminários teóricos, técnicos e clinicos; supervisão.

  1. o que pensa sobre a integração de candidatos (representantes) nas diretorias dos Institutos?

Como a formação psicanalitica não é um simples curso de especialização e sim uma “formação” com  toda a complexidade  que a palavra contém, quanto mais integrados ao Instituto estes estiverem, melhor será para todos, pois os candidatos são o futuro e a continuidade  da Instituição

  • o que pensa sobre a categoria de “analista didata” nos Institutos?

Creio que conduzir a análise de candidatos é uma tarefa de suma importancia, pois significa a continuidade da Instituição e da psicanálise, no entanto a função didática nao pode ser eterna  e nem os analistas que exercem essa função serem intocáveis. Me parece fundamental que cada Instituto tenha um espaço de discussão permanente sobre as funçoes didáticas (análise; supervisão e ensino), permitindo que as angústias frente a essa tarefa sejam partilhadas.

  • considera que existe diferença entre análise pessoal e análise didática?

Penso que não deveria existir, mas como a análise pessoal é uma exigencia dos Institutos, este sempre ficrá pairando de alguma maneira sobre a análise, portanto fica muito dificil nao ter uma diferença, mesmo quando o analista que analisa o candidato nao receba o título de analista didata.

  • quais são para você as profissões que se admitem para o ingresso nos Institutos de formação psicanalíticas? Médico ou Psicólogo somente? Outras mais?

Esta é uma questao complexa, no Instituto da SPMS, são aceitos para formação apenas médicos e psicólogos, no entanto muitas sociedades sao mais flexiveis na admissao de postulantes a formação e penso que isto deve ser repeitado e nem uma posiçao e nem outra deve ser imposta, cada sociedade deve desenvolver aquilo que considera melhor, de acordo com suas necessidades e com o meio onde está inserida.

4- As sociedades psicanalíticas têm tentado fazer mudanças, levando em consideração fatores sociais,  políticos e culturais. Qual a sua opinião a respeito de “análise à distância” para pessoas que residem em regiões distantes dos grandes centros?

Esta é uma solução que gera muitas polêmicas, pois é vista com certa desconfiança por alguns e com entusiasmo por outros. Quais são as consequências  desta modalidade de formação? Não temos respostas ainda. Como é uma formação em que os candidatos em sua análise pessoal têm  um setting em constante movimento, ou um setting virtual, em que a intimidade, a privacidade e a interiorização ficam comprometidas e por vezes ameaçadas? Longe de ser pessimista ou de ter uma visão apocalíptica destas novas possibilidades de transmissão da psicanálise, penso que devemos nos manter fieis ao método psicanalítico e não deixar de investigar incansavelmente estas experiências e seus desdobramentos, bem como promover discussões e trocas de experiências, que permitam que psicanálise e sua transmissão  estejam em constante expansão e desenvolvimento e possam atender as demandas das pessoas que residem longe dos centro formadores.

5- Levando-se em conta o texto de Freud, “ Recordar, repetir, elaborar”, de que forma a psicanálise pode contribuir com a questão da memória coletiva e dos laços sociais? Neste contexto, como analisar as palavras de ordem: “Ninguém solta a mão de ninguém”, “Tortura nunca mais” ou “Lembrar para nunca esquecer”?

A psicanalise pode contribuir de maneira significativa com a questão da memoria coletiva e dos laços sociais, nao apenas pelo trabalho no interior do consultório, mas também por meio de atividades cientificas que possam atingir a populaçao geral, promovendo discussoes e conversas a respeito de assuntos dolorosos e difíceis: tortura; racismo; violencia; preconceitos, etc.

6- O próximo congresso da FEPAL, em 2020, terá como tema “Fronteiras”. De que ponto de vista abordaria as fronteiras psicanalíticas?

Gostaria de abordar esse tema desde a  perspectiva clínica, as fronteiras do psiquismo; as fronteiras entre o eu e o não-eu; as fronteiras da prática analitica; a etiologia e o funcionamento da patologias-limitrofes.

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