Entrevistas com os 7 Representantes da América Latina no Board da IPA – Anette Blaya Luz

  1. O que significa para você ser um representante da América Latina no Board da IPA e qual é a importância da comunicação entre os representantes e a FEPAL?  

Ser eleita como representante ao Board da IPA me trouxe imensa satisfação. Poder contribuir para os desenvolvimentos teóricos, técnicos, políticos e administrativos, no seio de nossa instituição maior, é motivo de muita alegria e representa bastante trabalho.

O intercâmbio constante com as instituições federativas da Fepal, em especial as brasileiras, é fundamental para que seja possível um bom desempenho nessa tarefa. Isto porque o Representante deve, acima da tudo, representar os pensamentos, anseios e preocupações daqueles que ele, ou ela, representam. Em vista disso é fácil compreender por que essa comunicação é tão fundamental.

2- O mundo está caótico, os princípios que norteiam o tratado dos “Direitos Humanos” estão cada vez mais sendo atacados, para você, o que a Psicanálise tem a ver com isso?  

A Psicanálise está sempre imersa na cultura. Ela é, inclusive, fruto da cultura repressora prevalente à época de Freud. Não existe a possibilidade de pensarmos uma Psicanálise dissociada da cultura onde ela é exercida. Com essa premissa entendo que tudo o que esteja relacionada à cultura vigente tem importância para a psicanálise. Essa interrelação determina muitas evoluções que transformam a psicanálise e a tornam uma ciência moderna, dinâmica e em sintonia com os sofrimentos da alma humana. Uma psicanálise anacrônica é menos útil.

3- O que pensa sobre os modelos de Formação nos Institutos de ensino e também sobre a autonomia das sociedades psicanalíticas em relação aos modelos vigentes? 

Respeitando algumas cláusulas pétreas da formação psicanalítica proposta pela IPA, como a análise didática, os seminários teóricos e as supervisões, penso que cada Instituto pode fazer os ajustes que julgar úteis e necessários para o bom desenvolvimento de seus candidatos. A mudança na frequência das sessões de 4 para 3 em alguns institutos é um bom exemplo disso. 

  • o que pensa sobre a integração de candidatos (representantes) nas diretorias dos Institutos?

Penso que os candidatos têm muito a contribuir para melhorar suas formações, mas as Diretorias dos Institutos não são os fóruns mais adequados para essas participações.

  • o que pensa sobre a categoria de “analista didata” nos Institutos?

Desde que a condição de analista didata seja uma função, e que esta seja reavaliada de tempos em tempos, penso que como função pode ser útil. Como categoria estanque acho que é prejudicial, afinal não é para ter vitaliciedade.

  • considera que existe diferença entre análise pessoal e análise didática?

Não deveria existir diferença entre a análise didática e a análise comum. Ambas são análises pessoais. Mas é inegável que existe um “superego institucional” representado pelo Instituto. Quanto mais maduro e saudável for a dupla tanto mais independente do instituto essas análises serão.

  • quais são para você as profissões que se admitem para o ingresso nos Institutos de formação psicanalíticas? Médico ou Psicólogo somente? Outras mais?

Nunca me detive nessa questão. Não tenho uma opinião fechada a esse respeito. Penso, a princípio, que a condição de psicanalista pode ser exercida por outras categorias profissionais, pois é uma atividade que depende muito mais de outras questões (como a capacidade de desenvolvimento de uma boa função psicanalítica da personalidade) que é independente do diploma da graduação.

4- As sociedades psicanalíticas têm tentado fazer mudanças, levando em consideração fatores sociais, políticos e culturais. Qual a sua opinião a respeito de “análise à distância” para pessoas que residem em regiões distantes dos grandes centros?

Análises à distância são úteis em circunstâncias muito especiais, mas sempre mescladas com encontros presenciais.

5- Levando-se em conta o texto de Freud, “Recordar, repetir, elaborar”, de que forma a psicanálise pode contribuir com a questão da memória coletiva e dos laços sociais? Neste contexto, como analisar as palavras de ordem: “Ninguém solta a mão de ninguém”, “Tortura nunca mais” ou “Lembrar para nunca esquecer”?

Como analistas não devemos nos eximir de participar na vida social, cultural e política do universo onde estamos imersos. Somo seres sociais, políticos e fazemos parte de uma cultura. No entanto, penso que a psicanálise não deve ter posturas partidárias. Respeito aos direitos humanos sim, partidarismos não, pois me parecem apaixonados demais para serem úteis à psicanálise.

6- O próximo congresso da FEPAL, em 2020, terá como tema “Fronteiras”. De que ponto de vista abordaria as fronteiras psicanalíticas?

Achei a eleição do tema extremamente feliz. Me apaixonei pelo tema já à primeira vista. No escopo desse tema muitas são as possibilidades. Desde as mais óbvias como os diagnósticos fronteiriços, até as mais abstratas como por exemplo as fronteiras entre neutralidade e rigidez ou afrouxamento da neutralidade e atuações no setting.

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