Diretoria de Comunidade e Cultura

Directoras:

Sonia Terepins – Directora titular (SBPSP)
Silvia Bracco – Directora suplente (SBPSP)

Membros de la Comisión

Adriana Nagalli de Oliveira (SBPCamp)
Alice Lekowicz (SBPPA)
Ana Huitzil (SPM)
Ana Rozenfeld (APA)
Eduardo Martins (SBPSP)
Fryné Santisteban (SPP)
Jose Scavuzzo (APC)
Luiz Moreno (SBPSP)
Monica Sá (SBPSP)
Susana Balparda (APU)

Há cem anos, em Psicologia das massas e análise do eu, Freud escrevia: “Na vida psíquica do ser individual, o Outro é via de regra considerado enquanto modelo, objeto, auxiliador e adversário, e portanto a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social, num sentido ampliado, mas inteiramente justificado”.

Vemos que a frase conjuga psicologia individual e social de uma maneira indissociável: na vida psíquica individual, o Outro está presente de diferentes maneiras, mas sempre está lá. De certo modo, o trabalho que propomos como diretoria é uma tentativa de entender e levar adiante essa indissociabilidade entre psíquico e social, e – se possível – retirar dela algumas consequências para o saber e a formação psicanalíticos.

Não bastasse estarmos em plena pandemia, assistimos hoje ao crescimento de um discurso de intolerância que justifica ações bárbaras, despedaçando o laço social que regula nossas relações. O vírus ataca o homem, mas o próprio homem também o ataca. Marcelo Viñar nos interroga sobre o horror do que o homem faz ao homem, “onde o outro humano não é o semelhante e sim o inimigo a ser destruído. Que efeito tem na mente humana este despedaçamento da unidade da espécie, que funda os umbrais da identidade?”

Num tempo de incertezas, de múltiplas formas de violência, preconceito, racismo, desigualdade se faz urgente uma psicanálise pautada no compromisso social. É fundamental pensar o sujeito na cultura, nos caminhos trilhados entre o psiquismo individual e o coletivo, de que lugar que esse sujeito fala e como isso atravessa sua subjetividade. É crucial propor outras formas de compreensão dos fenômenos que nos cercam, ampliando a relação da psicanálise com as questões do mundo, e principalmente atendendo ao sofrimento gerado pelo mal-estar provocado nessas condições. E a pergunta insiste: o que é ser psicanalista hoje? O que buscamos? O que fazemos?

A interdisciplinaridade aponta um caminho e se faz presente no reconhecimento do outro, na ampliação do diálogo com várias formas de pensar. A denúncia que a psicanálise não deve ficar restrita aos consultórios está posta, temos que avançar. Esperamos nessa gestão aprofundar a reflexão teórica clínica, sobre as modalidades de intervenção.

Caminhos

Valer-nos do que foi já feito, parece um bom ponto de partida. Recebemos um mapa da gestão anterior, intitulado Comunidade em três tempos (http://comunidadentrestiempos.fepal.org/pt/inicial/). Nele podemos localizar grande parte dos trabalhos na comunidade realizados por psicanalistas da América Latina. Pois bem, feito o mapa, é hora de pensar nos caminhos.

      Propomos levar adiante uma das ideias centrais desse projeto que é estabelecer intercâmbios culturais: promover o diálogo entre os colegas analistas que se arriscam na extensão da prática analítica.

      Jorge Luis Borges conta a história de um homem que, ao terminar a confecção detalhada de um mapa, dá alguns passos para trás e reconhece, nas linhas gerais do desenho, o seu próprio rosto. O nosso intuito é similar: traçar caminhos nesse mapeamento, de tal forma que ele devolva o rosto da psicanálise latino-americana, o nosso rosto.

A Extensão da Clínica

      A extensão da clínica não é simplesmente a psicanálise usada fora do consultório, onde a técnica padrão não é exequível, mas sim a medida em que o método ultrapassa a técnica.

      A atual psicanálise praticada fora do setting tradicional, herda muito do que já foi feito, pelos pioneiros do Rio da Prata e muitos outros analistas de toda a América Latina.

      Dá-se, porém, que a extensão da clínica exige algo mais do analista. É uma clínica ampliada, onde os psicanalistas se abram um para o outro, e troquem experiências: que ultrapassem as distâncias do idioma nacional (espanhol e português), e ultrapassem também o idioma psicanalítico (freudiano, kleiniano, bioniano, winnicottiano, lacaniano…). Precisamos de pontes, pontos de contato: compartilhar experiências de trabalho e aprofundar ainda mais a reflexão teórica clínica, sobre as modalidades de intervenção (que também aprendemos da querida Janine Puget, por exemplo). Trata-se de reconhecer ou até mesmo construir dispositivos teóricos e clínicos onde a escuta psicanalítica aconteça e favoreça processos de transformação subjetiva.

Talvez a Psicanálise sofra por ser demasiado forte e não demasiado fraca, tão forte que nós analistas não a conseguimos manejar adequadamente e ficamos a repetir modelos já assegurados, só de raro ensaiando uma psicanálise original em área nova. — Fabio Herrmann

Relatos de experiências e projetos

Para isso, pensamos em uma forma de estabelecer esse diálogo, chamamos de Relatos das práticas na comunidade: a extensão clínica em dois atos.

Primeiro ato, trata-se de apresentar como cada analista problematiza a sua experiência de extensão da clínica psicanalítica. Isso pode assumir diferentes formas: apresentações virtuais, textos, vídeos, fotografias e muitos outros.

Segundo ato, trata-se de construir um pensamento metapsicológico que dê densidade para a experiência relatada. Isso também pode assumir diferentes formas: interpretações artísticas, construções de novas teorias. Lacan chama de ato aquilo que muda o Outro, aquilo que altera as coordenadas do que nos determina. Buscamos relatos de atos.

      Os relatos das experiências servirão de base para a formulação de projetos no intuito de ampliar e enriquecer a discussão. Em suma, como a psicanálise altera o mundo; e como a psicanálise, olhando para o mundo, altera a si mesma.

Ampliação do horizonte da clínica

Voltamos ao indissociável entre psíquico e social, entre Psicanálise/Cultura-Comunidade. Percebemos que muitos de nós estão envolvidos com essa articulação. É necessário avançar, sobretudo na inclusão dessas práticas na formação de novos analistas. Esse será um dos eixos do nosso trabalho: discutir e desenvolver programas que levem a prática comunitária para dentro da formação nos nossos institutos, criando material que possa ser referência para futuras iniciativas.

Os intercâmbios dos encontros Inter-regionais serão as sementes para um importante espaço dentro do próximo Congresso da Fepal para a área de Psicanálise, Comunidade e Cultura

Propomos pensar juntos na ampliação do horizonte da clínica, como algo que está no cerne da psicanálise, ligado a sua vocação. A extensão da clínica pode surgir então não como um mero excedente da prática analítica, mas como produtora de saber psicanalítico e parte essencial de nossa formação. Que a psicanálise usada fora do consultório possa trazer alterações externas e internas, fomentando o diálogo e a permeabilidade da clínica, incluindo aí a imposição do virtual com seus desafios e contribuições ao método psicanalítico.

Eixos de trabalho na Extensão da Clínica:

  1. Em relação a comunidade:

1.1 Pensar em modalidades de intervenções psicanalíticas praticadas fora do setting tradicional.

1.2 Pensar metapsicológicamente a partir desta prática clínica.

  • Na cultura: pensar no olhar psicanalítico para fenômenos culturais.
  • Nos Encontros inter-regionais: promover o diálogo e trocas entre os colegas-analistas que se arriscam na extensão da prática analítica.
  • Na formação ampliada: propor modos de integrar e enriquecer a formação analítica, produzindo material que sirva referência para futuras iniciativas.

Sonia Terepins e Silvia Maia Bracco

e colaboração de Adriana Nagali, Eduardo São Thiago Martins, Mônica Sá e Luiz Moreno

da comissão  executiva

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