por Equipe Semear
O Semear convidou a Analista Hilda Botero* , e a Psicóloga Cristiane da Silva Geraldo Folino** para dialogarem através da escrita sobre alguns aspectos do período gestacional.
A primeira parte dessa “conversa” você confere abaixo. Dentro de alguns dias publicaremos a segunda etapa desse diálogo.
Até lá, o Semear convida a todos para seguirem contribuindo com esse bate papo nos comentários!
GESTAÇÃO …
Parte I
H – Cristiane, vamos inaugurar esse convite para o diálogo. O que achas?
H – Escolhemos, por convenção, um ponto de partida para a ‘Gestação’ e a partir daí visitamos o berço do nascimento… Quando nascemos? Eu proponho: O “big-bang” do momento da concepção lança um universo para ser povoado de ilusões, fantasias, planos… amor. Também surge ambivalência, renúncia, rejeição e uma gama de emoções complexas que dão origem a uma jornada do acaso e acontecimentos acompanhados com ritmos, melodias e canções de ninar que embalam esse bebê que surge agora em um tempo-espaço emocional.
C – Quando observamos alguém gestando, podemos não nos dar por conta de que esse estado faz parte de um processo impactante, parte dos preparativos necessários para a mulher se tornar mãe, graças à interação proposta pelo bebê.
Ela impõe uma transformação psíquica, tão essencial quanto a física, que nem sempre é levada em conta. Agora, não só o seu corpo gesticula … estados psíquicos especiais de maior sensibilidade são experimentados ao longo do processo gestacional.
H – Isto é narrado como “um útero mental gestando…” Começa a história de um relacionamento nascente, nove meses de eventos, cadências, rumores, murmúrios de um mundo extra-uterino apenas imaginado. O diálogo emocional está instalado.
C – Apesar de trazer certa dose de desestabilização, a mãe está com uma sensibilidade exacerbada que é essencial para que a mulher possa se conectar intimamente com a criança.
H – Ah! … Agora, desde quando nós ‘observamos’ um bebê? Observamos a mãe durante a gravidez e inferimos alguns dados dessa relação que está sendo tecida entre ambos. A mãe, com o olho da mente, desde quando observa? Que tecido os dois usam na gestação para sustentar essa ponte relacional, para se embalarem, mãe e bebê? Que outro útero emocional contém a mãe, absorvida nos sussurros mudos de seu bebê? Como observamos o pai gestando um vínculo fortaleza… contendo essa experiência de gestação?
C – Quando um bebê é esperado, é necessário nutri-lo com nutrientes essenciais. Uma mãe e um pai também nascem para cada novo bebê, e juntos eles trabalharão com esse novo ser uma experiência emocional particular.
H – Parte dessa alimentação é observada na forma como o bebê pré-natal configura uma intensa experiência relacional com a voz de sua mãe, não apenas reconhece sua voz em um horizonte auditivo, como também impregna o ritmo e a música de sua futura língua materna. Esse encontro acompanha a vida no útero. A voz da mãe é um organizador psíquico durante o período pré-natal, como uma proposta de contato com elementos vitais para o desenvolvimento harmonioso da personalidade.
Vamos continuar pensando e falando… ok?
*Coordenadora da Associação Latino-ameriaca de Observação de Bebês – ALOBB e Membro Titular da Asociación Psicoanalítica Colombiana.
** Membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo e Observadora de Bebês.