Conexão FEPAL N°27

O novo ano nos encontrou com o ânimo abalado pelos complexos acontecimentos políticos e sociais que vêm assolando alguns países da América Latina; ao mesmo tempo, na Equipe de Publicações da FEPAL, amadureceu – não sem uma significativa dose de audácia – o desejo de transformar o boletim informativo Conexão FEPAL em um projeto editorial virtual. Essa convergência de circunstâncias nos levou a propor uma publicação como espaço de circulação de ideias, que oferecesse a possibilidade de atravessar a indignação como cidadãos e sair da perplexidade, para pensar, a partir da psicanálise, as dinâmicas que se repetem nesses fenômenos sociais. Por essa razão, escolhemos para a primeira edição o título Democracias latino-americanas ameaçadas, em consonância com a Declaração da IPA: Ataques brutais à democracia em todo o mundo.

Na capa, a obra Postos Opostos #1, de Cadeh Juaçaba, acompanha o espírito desta edição. Este artista visual brasileiro, por meio dessa fotografia, manifesta sua intenção de questionar e provocar reflexões. A composição de bandeiras feitas de latão, como telas que ondulam em direções opostas, representa a polaridade, um dos sintomas sociais que padece seu país.

Três psicanalistas – de Brasil, Peru e Colômbia – foram convidados a escrever na seção Perspectivas, a fim de compartilhar suas visões sobre os conflitos políticos e sociais em seus países. Em uma crônica detalhada intitulada A Nuvem do Golpe, Ana Valeska Maia Magalhães comenta os fatos ocorridos no dia 8 de janeiro em Brasília, quando milhares de bolsonaristas, rejeitando os resultados das eleições presidenciais, invadiram a Praça dos Três Poderes. A autora analisa como “o porta-voz do delírio negacionista apresenta-se como um pai ungido pelo divino, que não teme a lei. E os filhos, empoderados pela chancela da autoridade paranoide distanciam-se da realidade, acreditando que tudo podem”. De outra região sul-americana, a psicanalista peruana María Luisa Silva fala sobre o mal-estar vivido em seu país. Em seu artigo Democracia à deriva, ela aponta que “uma severa crise – onde o desgoverno, o tribalismo, o fanatismo do pensamento único e o ataque à alteridade dominam o cenário social e político –, nos coloca não apenas diante de uma democracia ameaçada, mas diante da impossibilidade de sentir sequer que somos compatriotas”. O denominador comum dessas crises mencionado pelas autoras é a desestabilização de uma ordem constitucional. No entanto, no âmago desse sistema de governo, as violências de uma desigualdade social formalizada também podem permanecer estáveis e naturalizadas. É o que nos adverte Fernando Orduz ao comentar a situação na Colômbia em seu artigo Democracias latino-americanas ameaçadas. “Sob o manto da chamada democracia mais antiga do continente, esconde-se uma dinâmica social baseada em um fratricídio feroz que não cessa em seu horrível derramamento de sangue”.

A atual presidente da FEPAL, Wania Cidade, inaugura a seção Conversações. Em um agradável diálogo com Ximena Méndez, ela reflete sobre os momentos dramáticos que a América Latina vive devido à escalada da violência causada pelas desigualdades propiciadas pelo autoritarismo dos governos. A entrevistada propõe que as instituições psicanalíticas ofereçam oportunidades de formação àqueles que não dispõem de recursos financeiros.

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