Este número vem à luz entre um ano que expira e um novo tempo que está surgindo. As complexidades de uma época convulsionada pela violência de vários tipos nos tocam e passam por nós de diferentes maneiras; e é por isso que, no contexto em que vivemos, escolhemos o título Reflexões sobre a paz para esta edição, de acordo com o último manifesto que o Conselho Diretor e os Presidentes das Sociedades e Associações da FEPAL publicaram em 9
de outubro deste ano, por ocasião dos ataques terroristas do Hamas. No último parágrafo dessa declaração, dois significados foram destacados em letras maiúsculas:
Manifestamo-nos em defesa da PAZ [sic], da democracia, da soberania dos povos, do respeito às diferenças e em repúdio aos discursos de ódio que abrem caminho para atos terroristas, para a guerra e para a barbárie que vão contra a dignidade da pessoa humana.
A ética psicanalítica nos convoca ao radical reconhecimento da alteridade e aos laços que promovam a VIDA [sic].
Há 90 anos, por iniciativa do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, foi publicada uma troca epistolar entre Einstein e Freud intitulada Por que a guerra? O renomado físico propôs não apenas o assunto, mas também seu interlocutor, na esperança de que Freud, que tinha conhecimento sobre a vida pulsional do homem, pudesse lançar luz sobre o problema da devastação da guerra. E embora Freud não fosse otimista, em sua carta ele deixou duas pistas possíveis para o transbordamento da pulsão destrutiva: “Tudo o que estabelece laços de sentimento entre os homens não pode deixar de ter um efeito contrário à guerra”.1, e “tudo o que promove o desenvolvimento da cultura também trabalha contra a guerra”.2 Nesse sentido, por meio desta convocação para escrever sobre a paz, desejamos, por um lado, promover laços por meio da circulação de ideias heterogêneas de diferentes autores latino-americanos e, por outro lado, incentivar os psicanalistas a fazer uma contribuição à cultura que ajude a interrogar os acontecimentos atuais.