Sobre o vínculo primário no desenvolvimento humano

Nesta segunda publicação de 2020 o SEMEAR retorna ao inicio da vida. Através do consistente texto de Lila Gómez, colega Membro da Sociedade Psicanalítica de Mendonça – Argentina, convidamos a todos para refletir e conversar um pouco sobre a importância do vínculo primário para o desenvolvimento humano.

Deixe seu comentário abaixo para seguirmos desenvolvendo juntos as ideias trazidas por Lila!

“Sobre o vínculo primário no desenvolvimento humano”

Por Lic. Lila Gómez

Membro aderente da Sociedade Psicanalítica de Mendoza, Argentina

A palavra “vínculo” vem do latim “vinculum” (atadura) é uma ligação estreita, porém não forçada. Em inglês se utiliza “attachmente” para designar “apego”. Bowlby (“O vínculo afetivo”) descreveu a “conduta de apego” como “qualquer forma de comportamento que faça com que uma pessoa conserve proximidade  em relação a outro indivíduo diferenciado e preferido?”.

O vínculo inicial, segundo Dra. Aurora Pérez (“A familia matriz do psiquismo”) se pode definir como “um veículo transportador das vicissitudes emocionais do bebê, para o choque emocional de demanda, no polo dos pais e a partir daí a transformadora resposta instalando o mundo psíquico primário na interioridade do bebê”, procesando o leque existente entre as experiências de morte e plenitude. O vínculo inicial tem como função alimentar (amamentar) e sustentar os procesos mentais  realizados entre a pessoa que cumpre a função materna (mãe) e o bebê.

O recém-nascido geralmente olha para o rosto da mãe de maneira sustentada e intensa. A pessoa na função materna tem hipóteses, “sabe” o que precisa e adequa as respostas. Assim, se vai estabelecendo um ritmo de contatos, encontros, pausas que geram a formação do relacionamento ao longo das diferentes etapas do desenvolvimento.

Então, o bebê (biológico ou adotivo) será o depositário de diferentes fantasias dos pais, o que leverá a produzir vinculações únicas e particulares, para poder torná-lo filho (afilhar-se), o que representa:

  • A criança imaginada durante a gravidez ou a espera pela adoção, “transmisor do destino transgeracional”
  • O filho de suas fantasias, que remonta a infância, produto de seus desejos inconscientes
  • A criança com quem interagem na vida cotidiana.

Ou seja, os pais não tem nos braços um único bebê, mas pelo menos três. Como eles poderão “se posicionar” no exercício do papel dependerá do repertorio de identificações, e de suas posibilidades de relacionar-se com o bebê que carrega suas próprias características pessoais (capacidade de espera, tolerancia à frustração, quantidade de agressividade, modo de percepção etc.). As características do vínculo primário serão incorporadas ou “inscritas” na mente do bebê como modelo para contatar-se com outras pessoas ou objetos do mundo circundante.

As funções mentais como os manejos de emoções, a auto-avaliação, a capacidade de aprender ou de pensar, a simbolização, a capacidade de estar consigo mesmo, a criatividade, a empatia terão relação com o funcionamento desse fenômeno vincular. A falta, falha ou fratura no estabelecimento deste vínculo primário pode estar correlacionada com futuros desenvolvimentos psicopatológicos (instabilidade emocional, enfermedades psicossomáticas, atrasos maturacionais, etc.). Seria necessário investigar se as características deste elo primário são reproduzidas durante a velhice dos pais, mas de maneira invertida.

Como profissionais de saúde mental penso que, promovendo um contato profundo e fluido entre as pessoas que cumprem as funções materna, paterna e o bebê estaremos facilitando um desenvolvimento integral saudável da criança, da família e de seu ambiente social.

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