Nossa mensagem de fim de ano

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O ano 2020, que está concluindo, confrontou-nos com enormes desafios, a pandemia da COVID 19 nos colocou perante a morte de diversas formas, algumas conhecidas e outras inimagináveis. Os gestos diários, como abraçar, beijar, sentar ao lado um do outro, tornaram-se um risco para a vida. O cuidado com os mais velhos passou do encontro caloroso, para uma distância protetora controlada, prudente e dolorosa. As crianças têm passado por experiências de perturbação pelo trabalho escolar, pelo teletrabalho em casa, fomentando mais a dependência do que a autonomia. Os jovens têm tido experiências perigosas, dada a necessária e indispensável ligação e pertencimento a um grupo.

Nós psicanalistas pudemos continuar a trabalhar, indo do ambiente contenedor dos consultórios, à sala de jantar, ao estúdio, às diferentes salas das nossas casas, as mesmas dos nossos analisandos. Começamos a nos encontrar “virtualmente”, tendo de converter o ciberespaço num campo simbólico livre de várias vicissitudes, que somou-se a angústia perante a incerteza da nova situação. Os enfoques foram colocados de cabeça para baixo, como o próprio divã, tendo de ser reconfigurados caso a caso.

Nem todos os trabalhadores, nem os profissionais puderam continuar trabalhando a partir da proteção da casa, há aqueles que têm de sair todos os dias para ganhar a vida, e muitos perderam as suas fontes de renda. A pandemia trouxe de volta à mesa e exacerbou as injustas e desumanas diferenças sociais estruturais, que convocam e recebem, naturalmente, a solidariedade de diferentes movimentos, entre os quais o psicanalítico.

Estes são tempos que nos confrontaram com dicotomias profundas, colocando-nos perante fendas paradoxais difíceis de sanar. O isolamento social, invocou novas formas de comunicação que nos permitiram aos psicanalistas da FEPAL estar mais próximos. Nunca antes as nossas associações tinham tantas notícias umas das outras, nunca antes tínhamos encontrado tantos colegas que rapidamente se tornaram amigos e que “viajaram” para nos contar as suas ideias. O confinamento impôs tranquilidade e permanência nas nossas casas, mas nunca nos movemos tanto e com tanta intensidade, nos conectando a cada dia para nos encontrar e produzir nas redes. O último congresso atravessou as fronteiras dos fins-de-semana de um mês inteiro, mesas, painéis, até mesmo eleições se realizaram. Encontros de todos os tipos, e todo o tipo de atividades que permitiram mitigar um pouco, a profunda angústia que todo o mundo experimentou diante do Covid-19.

Temos de assumir estes paradoxos em vez de tentar resolvê-los, assumir os desafios, enfrentando-os com mais ou menos sucesso.

Hoje nos despedimos deste ano difícil, convencidos do valor dos laços face ao desamparo e da fragilidade do ser humano, bem como da sua grandeza, do paradoxo de que o rigor da existência nos convocou com intensidade para dizer que aqui estamos nós, desejando as melhores Festas que a situação atual permite, sentindo-nos comprometidos em seguirmos juntos.

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